Quando um trauma emocional deixa marcas no corpo

Uma menina de 12 anos, doce e dedicada, chegou ao consultório de osteopatia. Ela já praticava balé há alguns anos, com disciplina e paixão. No entanto, apesar da força em sua musculatura e da rotina intensa de treinos, ainda não conseguia manter os joelhos esticados como as outras bailarinas. Entenda nesta história, como um trauma emocional pode deixar marcas no corpo.

A mãe, atenta, buscou a osteopatia acreditando que talvez o corpo da filha estivesse mostrando algo que os exercícios e alongamentos não conseguiam resolver.

O corpo que tenta se proteger

Durante a avaliação, percebi algo importante: mesmo em pé, sua postura oscilava. Os joelhos permaneciam levemente flexionados, como se o corpo tentasse se proteger de algo. Havia força, mas faltava segurança. Equilíbrio, mas não estabilidade.

Com o olhar osteopático — que considera corpo, mente e emoção como partes de um mesmo sistema —, avaliei também outras regiões, e encontrei uma tensão profunda no períneo, área que sustenta o centro do corpo. Era uma musculatura rígida, em alerta constante.

Quando o trauma fica registrado no corpo

A mãe explicou que sua filha havia sofrido abusos na infância, cometidos por alguém próximo. Esse tipo de trauma, mesmo quando já elaborado emocionalmente, pode permanecer registrado no corpo. O sistema nervoso mantém memórias de autoproteção, e muitas vezes o corpo expressa isso em forma de contração, rigidez ou dor em regiões como o períneo, o abdome ou a pelve.

Na sessão de osteopatia, o trabalho é feito com um toque respeitoso e preciso. O objetivo não é “mexer” na região, mas comunicar ao corpo, através do toque terapêutico, que ele pode relaxar, que está seguro agora. É uma escuta profunda, sem palavras — apenas presença, intenção e cuidado.

O processo de cura e reorganização

Com o tempo, esse processo ajuda o corpo a liberar tensões antigas e reorganizar o equilíbrio natural. Nossa bailarina, hoje com 14 anos, é uma jovem consciente e resiliente. Sabe o que viveu, compreende o que sente — e, pouco a pouco, o corpo também começa a entender que já pode seguir em paz.

O corpo fala quando algo precisa ser ouvido. E, através da osteopatia, é possível ouvir e cuidar dessas mensagens silenciosas, que muitas vezes vêm de experiências difíceis do passado.

Reflexão final

Quando o corpo se protege demais, ele pode perder parte da leveza. Mas com o cuidado certo — físico, emocional e terapêutico —, é possível reencontrar o equilíbrio e deixar que a vida volte a fluir.

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Autor do Artigo:

Foto de Ariani Baggio

Ariani Baggio

Fisioterapeuta osteopata com mais de 20 anos de experiência em terapias manuais.

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Ariane Baggio

Fisioterapeuta osteopata com mais de 20 anos de experiência em terapias manuais.

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